PINGUELA
Ei você aí na ponte!
Não posso olhar, tenho medo de cair.
É longa mesmo, é estreita, nem é ponte, frágil pinguela.
Tenho que ir devagar, me custa.
Estou te olhando, vejo que você vai.
Vou por dever. Veja, lá atrás há um incêndio que consome tudo. Aqui, agora, uma névoa quase me tira a visão e ainda tenho que levar comigo o que me pertence.
E lá na frente?
Lá é longe, ainda. Mal consigo ver que existe, parece não ter fim a travessia.
É bela a sua roupa, seus cabelos estão crescendo, brancos.
Sei que posso voar daqui, perder os contornos, me dissolver na névoa, extraviar, virar outra coisa que também sou eu. Só que muito do que consigo eventualmente ver me dá náuseas, como um filme passado, sem sentido, sem graça alguma. E então me arrisco a dançar sobre esta longa e frágil pinguela, nesse equilíbrio precário, com meu vestido, meus cabelos brancos e meu sexo inquieto. Debruço meu tronco sobre estas cordas que servem pra algum apoio das mãos, debocho desse limite tênue entre o que se desfaz e o que ainda não existe, arrisco cair, dou risada e choro muito.
Mas chega, agora. Precisei dar esses gritos. Vou prosseguir.
Estou te olhando, vejo que você vai.
Eu e o que me pertence, mesmo que meus dedos sangrem quando se faz insuportável o peso da bagagem da qual não abro mão, mesmo quando se faz tão leve que as minhas asas içam meu corpo, querendo me levar pra onde não tenho limites nem contornos e os risos e os prantos são iguais. Mesmo assim.
Ei você aí na pinguela!
Me deixa ir.
Ei você aí na ponte!
Não posso olhar, tenho medo de cair.
É longa mesmo, é estreita, nem é ponte, frágil pinguela.
Tenho que ir devagar, me custa.
Estou te olhando, vejo que você vai.
Vou por dever. Veja, lá atrás há um incêndio que consome tudo. Aqui, agora, uma névoa quase me tira a visão e ainda tenho que levar comigo o que me pertence.
E lá na frente?
Lá é longe, ainda. Mal consigo ver que existe, parece não ter fim a travessia.
É bela a sua roupa, seus cabelos estão crescendo, brancos.
Sei que posso voar daqui, perder os contornos, me dissolver na névoa, extraviar, virar outra coisa que também sou eu. Só que muito do que consigo eventualmente ver me dá náuseas, como um filme passado, sem sentido, sem graça alguma. E então me arrisco a dançar sobre esta longa e frágil pinguela, nesse equilíbrio precário, com meu vestido, meus cabelos brancos e meu sexo inquieto. Debruço meu tronco sobre estas cordas que servem pra algum apoio das mãos, debocho desse limite tênue entre o que se desfaz e o que ainda não existe, arrisco cair, dou risada e choro muito.
Mas chega, agora. Precisei dar esses gritos. Vou prosseguir.
Estou te olhando, vejo que você vai.
Eu e o que me pertence, mesmo que meus dedos sangrem quando se faz insuportável o peso da bagagem da qual não abro mão, mesmo quando se faz tão leve que as minhas asas içam meu corpo, querendo me levar pra onde não tenho limites nem contornos e os risos e os prantos são iguais. Mesmo assim.
Ei você aí na pinguela!
Me deixa ir.
2 comentários:
Ei você aí!
Quão imortante pode ser uma pinguela, hein?!
Beijo, Pricila.
Hoje me chamou a atenção a sua "Pinguela" e, durante esta última semana, me chamou a atenção "A Ponte" do Lenine:
"...A ponte não é de concreto, não é de ferro
Não é de cimento
A ponte é até onde vai o meu pensamento
A ponte não é para ir nem pra voltar
A ponte é somente pra atravessar
Caminhar sobre as águas desse momento...
Inevitavelmente, estou numa fase de fazer associações, sei lá...juntar uma coisa com a outra, comparar, refletir, ver diferenças, semelhanças...Mas, seus escritos têm uma proposta interessante: sair da ilha, atravessar a ponte, mesmo que seja uma pinguela longa e frágil.
Beijoooooo, Lelena.
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