terça-feira, 14 de agosto de 2007


ATRÁS DA IGREJA

A mulher que recolhia pelos olhos pedaços infinitos do mundo por onde passava, achou de esconder seu olhar atrás da igreja. Fixo, almejava sossego, como se pudesse estancar a turbulência dos pensamentos.
Atrás da igreja parecia adequado e vazio. Quase não tinha nem flor, pois quase nem era um jardim. Era um quase nada onde os olhos podiam parar escondidos ali.
A mulher era cansada de olhar pras coisas, olhava demais e tudo virava motivo.
A mulher era cansada de motivo. Nuvem, pedra, criança, calçada, flor, parede velha, gente, vidro quebrado, lagartixa, avião, chuva, cão vadio, garrafa, papel amassado, esquina, poeira voando no vento, tudo era motivo e cansava.
A mulher pegou gosto de esconder seu olhar atrás da igreja, que ali cansava menos. Dizem que foi deixando de ser até virar planta. Só à noite dá pra ver sua sombra que se arrisca a passear no escuro

3 comentários:

Anônimo disse...

Lindo!!
Que bom que não tem ponto final
Beijo,
Pricila.

Walmir disse...

é bonito virar em natureza, planta ou sombra - tem horas mesmo que dá vontade. Mas aí ela perdeu sua humanidade?

Lelena Lucas disse...

A humanidade tem horas de natureza, planta ou sombra. Tem uma frase que conclui um conto/poema do Manoel de Barros que diz assim:"Eu não sei nada sobre as grande coisa do mundo, mas sobre as pequenas, eu sei menos".
Vai saber...