segunda-feira, 2 de julho de 2007

VENTANIA

para Mário Quintana


Mário Quintana, em uma de suas belas crônicas, me deu (a mim e a quem quisesse para si) a palavra “ventania”. Corri a fechar as janelas pois que a palavra me pegou de maneira devastadora. Voaram os papéis, as cortinas , meus cabelos e meus pensamentos.
Pus-me a olhar a ventania através do vidro no balé das árvores e das folhas desgarradas. E pensei que olhar a ventania é enxergar o invisível, ver somente os seus efeitos e neles reconhecer o que só é possível sentir. Ventania causa efeitos físicos e afetivos – como não se afetar ao observar atentamente a ventania?
Fui me sentindo assim meio desarrumada pela ventania que, em seu rumo, roubou o meu. Desarrumada me vi: sem rumo, sem norte, desnorteada (será que era vento sul?).
Em pleno espetáculo de ventania, emocionada, agradeci ao escritor pelo generoso presente que me pôs de encontro com a minha desordem.
E percebi que algumas outras palavras “invisíveis” podem se tornar espetáculos para qualquer observador, desde que ele se preste a esse desejo. Por exemplo, “calor”, “frio” e mesmo “saudade”.

Um comentário:

Walmir disse...

Pois que esta ventania não pare mais, seja carregada de inspiração, tanto e mais do que este primeiro e belo texto