domingo, 14 de outubro de 2007


O HOMEM SEM CHEIRO

O homem perdeu o cheiro. Tem só idéias, ou melhor dizendo, raciocínios, nem mesmo pensamentos.
É magro e se esforça para ser seco, e é.
Muito limpo, quase asséptico, mas só nas externidades, nas ações muito menos.
Os esquecimentos lhe servem para a injustiça. As fantasias e deturpações mais ainda.
Desprovido de qualidades não é nadinha, mas nas perturbações, faltam-lhe todas elas. Freqüentemente perturba-se.
Acha-se encantador de palavras, não para a sedução, mas pra que elas sejam servas de seus desvios. Acha que dizê-las altera a realidade dos acontecimentos. Diz palavra, mas não diz pessoa. A pessoa freqüentemente escapa-lhe da palavra.
Tem olhos molhados, o homem, mas não tem olhar. Dissimula desprezos, não que alguém acredite.
No lugar de sofrer, o homem sem cheiro odeia e assim facilita sua vida. Se não isso, finge bem, quase convence.
Há quem se engane a vida inteira, talvez por não ter aprendido nunca a chorar direito.
O homem sem cheiro parece que é assim. Mas pouquíssimo se sabe sobre ele.
Muita gente, no entanto, conhece alguém um pouco parecido.
Alguém assim, que perdeu o cheiro.

3 comentários:

Vô Gueminho disse...

Esse blog é um descanso. Me lembra uma belorizonte elegante e de bom gosto que eu conheço. Fofo como a dona dele.
bjs

Unknown disse...

Que traulitada, mulher!!!
Mas que coisa bem dita... bem elaborada... fruto de perlaboração! Hh...
Cheiros muitos pra você!

Anônimo disse...

Pô Lelena, nem sei o que, ou melhor, qual comentar, é uma beleza atrás da outra. Seja sua poesia, seja sua pintura, seja sua dança, seja sua graça. Te vejo o tempo todo do passeio (FELIZ) pelo seu blog. Com amor, Feliz ano novo. Um beijão.
Caio.