quarta-feira, 14 de maio de 2008


A MULHER, AS NUVENS E O AMIGO

Havia uma mulher.
Havia nuvens.
A mulher se viu nua, vestida de nuvens.
Quando escuras, a mulher não enxergava e desagradava muito não ver.
Quando claras, pareciam-lhe vestido de noiva ou de santa, ou de fada ou de pura.
Noiva nunca tinha sido, santa ainda menos, fada se achava e pura, com tudo que nela cabia, era, ela pura.
Envolta em nuvens caminhava a mulher, a disfarçar sua nudez e a soprar inutilmente as nuvens que, de resposta, lhe confundiam, armavam tempestades, volumes, texturas.
Ia a mulher com suas nuvens e um amigo perguntou: “E as nuvens?”
Respondeu a mulher: “Olha, consegue vê-las? E a mim? Será que se elas se forem estarei nua? É que quero ser exatamente o que sou e caber onde me couber e dar menos satisfações. Meu amigo, sopremos nossas nuvens e que nossas palavras nos salvem.” E agradeceu ao amigo, a mulher com as nuvens.

2 comentários:

Cidadão Cão disse...

Uma delicadeza o teu blog. Parabéns. E.

Lelena Lucas disse...

Obrigada. Depois vou passear pelo seu blog com calma e deixo um alô por lá.