domingo, 24 de fevereiro de 2008


OUTRA VISTA DAS MONTANHAS

Pois vai que na memória um se encontra repleto de declarações e descobertas de amor. Um se cansa porque é assim, cansável. Um finge não acreditar no frescor de um dia que vem depois de outro. E um se esquiva de seguir se embasbacando com os fatos imprescindíveis e convenientes que o fizeram amar de maneira intensa e declarada, um finge que não acredita que seu amor tem poder de amplitude e continuação. Mas um se trai porque seu amor é alvo e é resgatável e um percebe que o dia que vem depois do outro tem paisagem fresca de cores fortes e um é uma criança teimosa que finge não conseguir crescer. Mas um cresce com seu amor de rosas e estradas de terra vermelha, um cresce com seu corpo de cheiros e gestos de maravilhosa indecência porque um ama assim, mesmo que o negue, mesmo que se ponha muitas vezes a dizer pra si que as coisas se acabam simplesmente.
Olha um, o mar de montanhas e por trás, mais montanhas, entre elas os vales, entre os vales os buracos, os abismos, os intervalos. Também me tenho assim, mesmo que me despiste em transparências de cores e flores e trago tudo pra bem pertinho pra não me precipitar lá onde não alcanço.
Um sabe amar como ninguém e não sabe.
Também não sei.

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