terça-feira, 12 de fevereiro de 2008




DAS MONTANHAS

Poucos prazeres se comparavam ao de chegar lá e conferir que as montanhas continuavam estáticas e disponíveis. O rio podia correr e transformar infinitamente a paisagem por onde percorria, pois afinal, tudo se move com o rio. Mas as montanhas permaneciam com uma estabilidade quase definitiva. Ir ver e estar com as montanhas era como alimentar uma quietude em constante ameaça. Conferir os contornos, averiguar que tonalidades ofereciam o clima daquele dia, a composição das nuvens, a temperatura, o cenário mutante das árvores e do mato, o cheiro do ar. Tudo em torno de uma firmeza que parecia quase real.
Foi a mulher conferir as montanhas e depois, de sua varanda, tecer seu tecido, bordar as beiradas, emendar os retalhos, construir a manta que cobriria um filho ou um amante, ou uma mãe já velha, ou um pai solitário, uma amiga, nunca um desconhecido.
Vendo as montanhas, pra que não morresse de inconstância e expectativa.
Por lá, depois, percorreria inúmeras trilhas, num quase delírio de que tudo podia.

2 comentários:

Walmir disse...

a sua recriação da montanha no desenho ficou linda.
Montanha é bom, não é?
Quando fico muito tempo em lugar plano me dá saudade de morro.
Pode ser esta segurança de que você fala, constância.
Paz e bom humor, Lelena.

LM, paris disse...

Boa noita lelena,
venho até aqui pela mao amiga da isabelle dufau, dançamos juntas em Paris.
Que lindo o seu poema e o desenho da montanha!
Que bom ler a sua escrita, me deu balsamo. Beijos de Paris, vou passando por aqui!
lidia