“O cem-cabeças é um peixe criado pelo karma de umas palavras, por sua repercussão póstuma no tempo.”
Jorge Luis Borges, “O Livro dos Seres Imaginários”
DAS INVENÇÕES
Pensou se seriam sempre repetições dela mesma, anos a fio, aquelas pessoas meio andróginas que eram recorrentes em seus desenhos. Vinham todas de um mesmo buraco.
E foi que o ser amado disse a ela: bonito o desenho, a expressão.
Foi o suficiente pra que o papel não fosse parar no lixo. Foi guardado dentro do livro dos seres imaginários (J.L.Borges), presenteado por ele.
Seres imaginários existem, de vários tipos, as crianças mesmo têm os seus, que os declaram amigos. De certa forma, somos seres imaginários de outros seres, e de nós mesmos.
Eram muitos os seres que acompanhavam os dias daquela mulher, que ao longo dos anos envelhecia, e que pra manter-se em funcionamento normal, debochava de si mesma às vezes, principalmente quando se tratava do amor. Achava curioso que alguns de seus sentimentos evoluíam muito pouco com o tempo, que se pegava a quase morrer em armadilhas que já conhecia.
Algumas funções haveriam de dar sentido à vida, ou pelo menos disfarçar a tolice que tudo parecia. Nada tem importância (e se dava conta do quanto precisava profundamente daquele nada que restaurasse alguma importância concreta).
Seres imaginários existem assim como um amor seguro e persistente, nunca deixaria de acreditar, mesmo que tudo lhe parecesse condenado à ilusão. Lá dentro dos olhos daquelas pessoas que desenhava, lá no meio das cores que pintava, das paisagens, dos borrões, anos a fio, a vida.
Tudo sem a menor importância, tudo invenção.
E foi que chegou outro presente do amado – uma caixa de ferramentas para a imaginação, um mundo de cores dentro de um belíssimo estojo. Ela foi passeando os dedos sobre os lápis perfeitamente encaixados no veludo, suavemente, um por um, como uma carícia, as nuances, os tons, os relevos, eroticamente, um gesto de amor.
Mesmo afogada e perdida em meio a tantas condenações, ficou agradecida.
Pensou se seriam sempre repetições dela mesma, anos a fio, aquelas pessoas meio andróginas que eram recorrentes em seus desenhos. Vinham todas de um mesmo buraco.
E foi que o ser amado disse a ela: bonito o desenho, a expressão.
Foi o suficiente pra que o papel não fosse parar no lixo. Foi guardado dentro do livro dos seres imaginários (J.L.Borges), presenteado por ele.
Seres imaginários existem, de vários tipos, as crianças mesmo têm os seus, que os declaram amigos. De certa forma, somos seres imaginários de outros seres, e de nós mesmos.
Eram muitos os seres que acompanhavam os dias daquela mulher, que ao longo dos anos envelhecia, e que pra manter-se em funcionamento normal, debochava de si mesma às vezes, principalmente quando se tratava do amor. Achava curioso que alguns de seus sentimentos evoluíam muito pouco com o tempo, que se pegava a quase morrer em armadilhas que já conhecia.
Algumas funções haveriam de dar sentido à vida, ou pelo menos disfarçar a tolice que tudo parecia. Nada tem importância (e se dava conta do quanto precisava profundamente daquele nada que restaurasse alguma importância concreta).
Seres imaginários existem assim como um amor seguro e persistente, nunca deixaria de acreditar, mesmo que tudo lhe parecesse condenado à ilusão. Lá dentro dos olhos daquelas pessoas que desenhava, lá no meio das cores que pintava, das paisagens, dos borrões, anos a fio, a vida.
Tudo sem a menor importância, tudo invenção.
E foi que chegou outro presente do amado – uma caixa de ferramentas para a imaginação, um mundo de cores dentro de um belíssimo estojo. Ela foi passeando os dedos sobre os lápis perfeitamente encaixados no veludo, suavemente, um por um, como uma carícia, as nuances, os tons, os relevos, eroticamente, um gesto de amor.
Mesmo afogada e perdida em meio a tantas condenações, ficou agradecida.
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