“Quando choraste, foi só por ti e não pela admirável impossibilidade de te juntares a ela através da diferença que vos separa.”
Marguerite Duras
UMA CONVERSA
Toma um chá, ela disse.
Não.
Então, senta, descansa um pouco.
Não.
Viu o jardim, como está florido?
Digamos que não entrei de olhos fechados.
E o que te trouxe?
Precisava não vê-la.
Mas aqui estou, sempre eu.
Vim outra vez para não vê-la. Quero não te ver pra sempre.
O chá derramou-se sobre a mesa. Ela trocou a toalha, foi até o jardim e colheu algumas flores que colocou no jarro colorido de porcelana e em seguida acendeu uma a uma todas as velas.
Aqui as noites são calmas e belas e os dias têm sido bons pra mim.
Pouco me importa, agora vou embora mais uma vez.
Seus sapatos estão sujos, posso ver suas pegadas.
Não olho por onde ando e nem quero.
Então, adeus.
Voltarei sempre para não vê-la, mesmo que eu diga que não venho mais, você sabe.
Pouco me importa, os dias têm sido bons pra mim, e às noites, você continuará não me vendo, só que sem me ver, pois não estou mais no mesmo lugar para que não me veja. E no rastro de suas pegadas, por esse caminho que você percorre sem olhar, me verá em todas as chuvas e verá também todas elas, as que você não quis ver e nunca esqueceu.
Um comentário:
Ah, Lelena, adoro quando encontro um post novo.
Muito lindo.
beijo
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