sexta-feira, 8 de maio de 2009


Trouxe esse texto de 2007, certa de que de lá pra cá temos muitos desentupimentos a celebrar.


DIA DAS MÃES (2007)

 Minha mãe sentiu dores no peito e depois de um tanto inconveniente de burocracias e investigações, ontem desentupiram seu coração. Disseram que ela agora vai se sentir bem melhor e mais bem disposta com o coração desentupido.

Disse-me ela que logo após o procedimento, se sentiu obnubilada. Não é a primeira vez que ouvi essa palavra vinda através dela pro meu conhecimento. Passei a admirar tal palavra com uma vontade quase feroz de empregá-la – “obnubilada”. Pensei num coração desentupido e a cabeça quase delirante entre nuvens, um ser em êxtase!

De ansiosa que fiquei, corri ao dicionário que me informou que “obnubilação” seria “deslumbramento” ou “trevas” (!!!) e tal e tal...; e que “obnubilar” seria “obscurecer ou pôr-se em trevas”. Burro esse dicionário, logo me opus. Pelo menos pude perdoá-lo pela palavra “deslumbramento” – essa sim, caiu como uma luva. Coração desentupido e deslumbramento. As nuvens residem muito acima das sombras, pensei (e fiquei desanuviada).

Mas daí voltei ao fato. Esse desentupimento não seria um processo que merecesse muito mais respeito, e que fosse tratado com um mínimo da poesia que lhe cabe? Por que não há boa música pra se ouvir e cores bonitas pra se ver, fotografias inspiradoras e belos quadros, ar, espaço e carinho ininterrupto nesses lugares que são áridos e sombrios, onde instalam os que se recuperam (e os que se despedem) nos hospitais?

Minha mãe teve o coração desentupido e se sentiu obnubilada e que ela seja liberada do hospital o quanto antes. No domingo próximo é Dia das Mães e eu quero compartilhar com ela e com os meus, seu coração desentupido em casa, com a veneração que merece tal acontecimento.

No domingo que vem comungo com todas as mães. Todas nós com nossos entupimentos cardíacos, com as nossas obnubilações e com os sinônimos, associações e metáforas que lhes cabem. E comungo com os que se entopem e se desentopem e que habitam entre, sob e sobre as nuvens.

Tenhamos um feliz e digno Dia das Mães.

12 comentários:

Anônimo disse...

lindo lelena...
mto bom

bjs grandes

Marina

Anônimo disse...

Que boa lembrança, querida! Feliz dia das mães para você também, mãezinha sensível...
Beijos
Rosie
PS: hoje comemoramos o Vesak: nascimento, iluminação e morte do Buddha. Ele nos convida a sermos como a mãe de um único filho, capaz de dar a vida por ele...

Anônimo disse...

MARIA HELENA, FELIZ DIA DAS MÃES PRÁ VOCÊ E TAMBÉM PRÁ PRÁ SUA MÃE QUE É UMA MULHER ADMIRÁVEL !!! NÃO SABIA DESSA HISTÓRIA DO DESENTUPIMENTO DO CORAÇÃO DA MARILÚ, ESPERO QUE AGORA ESTEJA TUDO BEM. BEIJOS, BEIJOS E BEIJOS !!! CAU

Teresa Morales disse...

6ta, 9 de maio 2009

Mi querida Lelena:

UM FELIZ DIA DAS MAES PARA TODAS AS MAES DO MUNDO, COM MUITO AMOR, PAZ E ALEGRIA, e SOBRE TODO PARA MINHA QUERIDA MARILU
COM MUITO CARINHO!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Fernanda Vianna disse...

Lelena querida,
adoro seus textos,
e suas aquarelas...
Parabéns querida,
e pelos dias das mães também.
Beijo

Marilu disse...

Minha querida,
obrigada, obrigadíssima por me recordar esse belo texto! Pra você, cujo coração acho que nunca se entope, porque tudo nele flui e se distribui. Um beijão e um Feliz Dia das Mães! Você merece.

Anônimo disse...

Lelena,
Que lindo texto! sabe que às vezes também me pergunto sobre o por que de hospitais serem tão sombrios. Aí logo penso que talvez pra gente que escolheu estar ali todos os dias, a poesia, a música e a beleza se manisfestam em cada vida que renasce, em cada coração que volta a bater, e nessa hora hospitais deixam de ser áridos e sombrios e passam a ser apenas um local onde as pessoas ás vezes precisam passar para seguir a vida melhores. Bjs, Alyne.

Jorge Santos disse...

Lelena, querida. Todo dia é dia das mães, princiopalmente as como você que tem amor aí nesse coraçãozinho pra dar e...

Peraí, não creio que venda não...

Bejo.

Lelena Lucas disse...

Marina,
Obrigada, fico feliz por você ter gostado.

Rosana,
Vivemos isso tudo bem juntas, lembra?

Cau,
Obrigada pelo carinho. Marilu está boazinha, mulher valente, você sabe.

Teresa,
Obrigada, amiga. Mamãe também agradece.

Fernanda,
Bom demais saber que te agradam minhas pequenas histórias e meus rabiscos. Obrigada, querida!

Mãezinha,
Meu coração tem também seus entupimentos, frutos de uma natureza um tanto intensa (pra não dizer exagerada mesmo). Faço uso de uma valentia que pego emprestada de você como herança pra enfrentar as tempestades.

Alyne,
Bacana o seu comentário. Afinal, por mais árido que o ambiente possa ser, um bom consolo é que neles também circulam corações e almas sensíveis e boas - você é grande exemplo: médica, mãe, bailarina, amiga. Obrigada!

Jorge Black,
Amor realmente não me falta. Faço um exercício constante pra que ele sempre me guie. Pra dar e vender... banana fica melhor mesmo.

Muitos beijos pra vocês!

Valéria disse...

Eiiiiiiii! Que delícia ter conseguido entrar aqui no seu blog. A vida está começando a se tornar obnobilada... no sentido de "desentupida"! Adorei o texto! Estou voltando a respirar, expirar, inspirar, ofegar, suspirar, desaluviar, sentir, perceber, realizar, desejar, sofrer, sorrir, chorar, e... viver, simplismente, viver. Lindo texto. Uma vez puder ter contato com sua mãe. Acho que já te contei a história. Que bom que está tudo bem. Ela é um liiiinda mulher. Beijo moça especial. Do coração.

Valéria disse...

Oooopssss.. detesto escrever errado. Corrigindo: simplesmente.

Lelena Lucas disse...

Valéria!
Que bom você aqui outra vez! Aqui e em muitos lugares, tenho certeza. Renovada, abrindo novas estradas.
Beijão