terça-feira, 23 de junho de 2009



BORDADO


Um ponto mais e esqueço do trânsito e do motorista estúpido.

Mudo a cor do tecido enquanto nem me lembro dos prédios enormes que se erguem no meu percurso diário, agressivas construções a mudar a paisagem e o fluxo, antes de relativa tranqüilidade.

A linha será vermelha agora, que nem me lembro dos diálogos interrompidos, das palavras cruéis, dos silêncios omissos.

E no centro se faz uma flor e quase nem penso.

E no outro, um botão.

As mãos brincam neste bordado quando quase nem sei que o tempo não me pertence.

sexta-feira, 12 de junho de 2009


O OUTRO TEMPO

 

Por trás do tempo passa um outro tempo que nem sempre se percebe (tem gente capaz de jurar que não existe).

Nesse tempo pode-se olhar a esmo e com demora, tempo em que cabe.

Não há pressa e nem prazos e é só querer que tudo se estica.

Pode-se não querer nada e só esperar o tanto do desejo.

Os dias são repletos ou parados, mas sempre grandes, num tempo que quase não se vê passar.

Por trás do tempo é que se faz também o sonho.

É desse tempo que saíram as cores da tarde.

Os desenhos das montanhas.

Uma chuva na varanda.

Esse seu cheiro que eu sempre soube.