sexta-feira, 19 de dezembro de 2008


NOITE FELIZ

 

Uma paisagem que não existe.

Um cheiro de merendeira de couro e a cor do guardanapo de algodão que embrulhou os biscoitos (só pra trazer a infância de algum lugar que é longe).

A árvore de Natal piscando na sala vazia, até bem tarde.

Férias com previsão de fim, tarefas e impedimentos demais pra atrapalhar o gozo.

A rabanada que minha avó fazia.

A torta de nozes controlada pra que a silhueta seja preservada, pelo menos um pouco.

Família aos pedaços, amor em pedaços, pedaços de papéis de presentes pelo chão.

Os brinquedos que não combinam com as crianças. 

Os adultos que não se combinam.

A roupa escolhida, os cartões que vão pro lixo, a comida que vai sobrar, uma implicância ou outra com pequenas coisas, alguém que vai chorar.

Um lugar pra onde ir, reservado, onde é possível viver um dia feliz. 

terça-feira, 16 de dezembro de 2008


ESPERA

 

A menina cavou com suas próprias unhas um buraco. Lá dentro depositou um desejo que já começava cheirar a mofo. Fez que esqueceu.

O menino tirou um brinquedo velho muito novo do armário e fez sua tarde outra.

A chuva continuou a molhar algumas claridades.

O vento disse: espera, agora ainda não.

No vaso uma flor ameaça abrir a qualquer hora.

Na certa, uma outra coisa virá nesse espaço que parece que não há.