terça-feira, 20 de novembro de 2007

abismar pra cima, rumo ao céu
Cansada das minhas imperfeições e dos meus despreenchimentos, providenciei uma ou duas conformidades. De nada me serviram, pois que tenho natureza inquieta. Todo o tempo que tenho pra frente ficou subitamente comprimido no meu peito, paralisante e explosivo. Busquei um repertório de quietudes pra tomar uma gota a menos do meu ansiolítico. Em vão. Acordar pela manhã ficou sendo tarefa complicadíssima, é preciso treinamento pra tomar meu café sozinha e respirar ao mesmo tempo.
E tinha um poeminha que era assim:

CONSTATAÇÃO

Sou demorada para auroras
Só clareio lá pras tantas do dia
Meu sabiá não fugiu da gaiola
Meu bem-te-vi não te viu

É isso por hoje.

quinta-feira, 15 de novembro de 2007


POEMA PARA DANÇAR

Eu queria
dançar um poema
Tocá-lo com os pés
Com os braços
trazê-lo ao prumo
Com um giro
alterar seu curso

Dar-lhe espaço

Surpreendê-lo com um salto
Jogá-lo ao chão
arrastar, rolar, apoiar
Exaurir seu cerne
ao repetir, repetir
e repetir o que se repetiu
com um sempre
que se sabe finito
Queria dar-lhe meu tronco
(e o que dentro, no centro habita)
Possuí-lo com os quadris
mover
que tudo é movimento
E saber dar-lhe um fim
suado
e ofegante


quarta-feira, 14 de novembro de 2007


PALPITAÇÃO

De me queixar
adoeci
De amar
sarei
Do seu beijo
me fartei
De palpitar
enfartei

(palpitei
um palpite
tão adequado
que ao seu lado
ressuscitei)

sexta-feira, 2 de novembro de 2007




RECEITA

As noites
acometidas de estrelas
são feitas pra namorar
Quando não se tem namorado
servem pra sonhar
Se o namorado faz dor na gente
servem pra chorar
Se o momento não é de amores
pode-se andar a esmo

Nas noites
não acometidas de estrelas
o cardápio pode ser o mesmo